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segunda-feira, 25 de julho de 2011

Texticulos do JPR - Domingo à tarde...

Mais um Domingo numa tarde de verão, está calor, muito calor.
Numa casa normal haveria uma ventoinha, um ventilador, ou outra coisa qualquer para refrescar o ar. Mas não aqui, afinal esta é a casa de Poldy e Cércyo, o casal mais sovina de Portugal, da Península Ibérica, da Europa, do planeta Terra, o terceiro calhau a contar do Sol.
Mexe-se o café, bebe-se o café, a televisão está ligada e o computador de Poldy, também. Cércyo diz “almocei mesmo bem, vou ver aqui um bocadinho do que está a dar na TVi”, ao que Poldy responde “olhaze, eu vou aqui verese os correiozes no computadorese e ver se a Zuana me mandou alguma menssagem ou esssstá aqui no mezengér”. Entretanto Mariló, a filha megera do casal que sai à mãe, refugia-se no seu magnífico computador Apple que lhe custou os olhos da cara, mas que nunca larga e vai fechando devagarinho a porta do quarto.
Cércyo acaba por cometer um acto heróico sem querer, pois conseguiu adormecer com a televisão em altos berros, também não admira o velho é surdo que nem uma porta, embora a mulher diga “ele aindase não esssstá muito surduze”, diz isto claro está, para que não se gaste dinheiro num aparelho. Se fosse para ela, era outra coisa…
Quando tudo parece acalmar na casa desta peculiar família, mal se ouvem as teclas do computador onde está Poldy, o que também não admira, vê-la escrever no teclado é o mesmo que ver uma galinha debicar o milho no chão, grão a grão, em suma, leva um minuto para escrever o nome dela – mas dizia eu – de repente Poldy grita “Cércyo, Cércyo, vem cá verese as porcarias de fotosss de mulhereses desavergonhadases que o Suão Paluze meteu no Olharese” e acrescenta “ai Zesus”. Cércyo acorda meio azamboado e lá vai cambaleando aos tombos pelo corredor, obedecendo à ordem da mulher. Ai dele que não obedeça…
Toca a campainha. Zuana, a neta e o namorado, Zuão estão a chegar a casa dos avós. Poldy abre a porta e diz a Cércyo, “olha a Zuana veio ver-noses e trouxese o Zuão”, Cércyo apróxima-se da do jovem casal, convida-os para a sala, aperta a mão ao puto e dá um beijo à neta, Poldy segue-lhe as pisadas, beija a neta e beija o namorado, ambos quase ficam com a cara colada à da velha, o que não é de admirar, ela põe pastas sobre pastas de creme e qualquer um que a beije na face, ou fica colado a ela, ou fica todo besuntado e gorduroso, neste caso foi a segunda hipótese que prevaleceu, já Zuão, o namorado da Zuana, conseguiu libertar a sua face do contacto da face da velha, após três segundos de esforço. Entretanto chega Mariló para cumprimentar a filha e o namorado da filha, dizendo aquele “olá filhota está tudo bem”, em tom de voz Vodafone, e mais um “olá Zuão, tas bom, o teu Pai já está melhor”, é que o Pai do rapaz estava doente desde as férias, e Mariló, cínica, tenta agradar ao pseudo-genro com a pergunta sobre o estado de saúde do Pai do rapaz. É que nunca se sabe o dia de amanhã…
Zuana repara que a avó tinha o PC ligado e a velha, por sua vez, também repara no que a neta reparou e apressa-se a dizer “essstava ali a essscreverese um testose no iord (iord quer dizer word na linguagem da velha) mas agora vou desligarese, logo acabose de essscreverese”, mentindo, pois não queria que a neta visse que ela estava na página das fotos de Zuão Paluze, o Pai de Zuana. A miúda encolhe os ombros, pois já conhece bem a avó e vai dando mais atenção ao avô que entretanto conversava com Zuão.
Mariló, já um pouco farta de ali estar na sala propõe à filha irem para o quarto dela ver umas coisas no computador e Zuana vai, mas salva João de ficar ali na sala sozinho á mercê das garras da velha e leva-o com ela. Zuão é aluno de Mariló na escola dos Carvalhos.
O tempo passa, o calor aperta, a tv não dá nada que interesse aos jovens e o ar enfadonho começa a invadir os rostos. É então que Poldy diz “ e que talese irmoses lancharese lá para dentrose”, Zuana encolhe os ombros e Zuão fica meio perplexo, pois sabe bem que comer naquela casa pode ser uma aventura, quase suicida. Não tendo outro remédio, lá avançam p’rá cozinha, com o velho na frente do pelotão a dizer para o namorado da neta “queres dividir uma cervejinha comigo?”, sim leram bem, dividir uma cerveja por dois, em pleno verão, num dia de calor. Bem sei que isto é um texto de ficção, caso contrário seria inacreditável. “Tenho aqui unzsss Fofinhossss muito bonzs! Vai buscarese os fiambrese, Cércyo”, neste momento já o velho fazia o que a mulher lhe ordenara. Mariló senta-se também para lanchar…
Cércyo como sempre parece um alarve à mesa, Poldy aparenta ser mais delicada nos gestos, Mariló come calada, Zuana quebra o silêncio dizendo umas parvoeiradas ao namorado que tenta em vão esticar a meia cerveja para desenbuchar dos fofinhos, farinhentos e já quase no limite do prazo de validade. Poldy que é uma autêntica princesa do sovinismo, apercebe-se que o namorado da neta come bem e que está a avançar muito rapidamente em direcção ao fiambre sem tirar o olho do presunto e começa logo a guardar os alimentos de novo no frigorifico, tão rápido que alguém que visse esta cena à distância, pensaria que não se tratava de um simples fiambre e um simples queijo, mas sim de alguma iguaria cara, tipo caviar ou salmão fumado.
De regresso à sala, Mariló vai para a varanda fumar o seu Marlboro Lights, os velhos e os putos senta-se de novo em frente à televisão. Os bocejos eram inevitáveis…
Tarde passada, barriga cheia no entender da velha, meio cheia no entender dos putos, e eis que Cércyo arranca do seu belo carro japonês dourado, mas cheio de mossas dos disparates feitos ao volante e trás a neta e respectivo namorado a casa. Poldy vem acompanhar o marido como desculpa para puder controlar os acontecimentos, não vá  a meia cerveja ter toldado o cérebro de Cércyo e este distrair-se e dar mais do que dez euros à neta. Isso seria o descalabro…
Volvida meia hora para fazer cinco quilómetros, Poldy e Cércyo deixam Zuana e o namorado à porta de casa.
Zuana faz planos para gastar os magros dez euritos que os avós lhe deram, Zuão ainda esfrega a cara para retirar a gordura do creme da velha…

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